Ela olhou no relógio e se assustou com a hora. Já havia passado muito tempo e ela ainda não fora embora, a madrugada adentrava escura pela janela e o vento fazia as cortinas do pequeno apartamento dançarem numa sintonia doce que a fez lembrar dos dois dançando a passos suaves no salão.
Ela olhou para o lado e ele parecia já estar dormindo, sim, ele estava dormindo.
Então é hora de ir mesmo, disse em pensamento. Pegou as chaves do carro que havia deixado por cima do criado. Se preocupou em não fazer barulho algum, acordá-lo não era seu intuito. Saiu sem rumo pela cidade, no som, Titãs.
Pensou na vida, na faculdade, pensou nos dois. O quê mesmo significava os dois?
Ele só a procurava quando queria, e ela só correspondia porque o amava de todo o coração.
Ele saía com várias e ela passava dias esperando uma única ligação.
Fora muito ignorada, sentiu dores que jamais pensou sentir.
Com lágrimas nos olhos pensou em como amar alguém poderia ser difícil. Pensou em trocar de número, mudar de cidade, trancar a faculdade, pensou em buscar um abrigo seguro o suficiente para que ele nunca mais a encontrasse. Mas isso significava abandonar a vida que havia construído ali.
Pensou que a saída era deixar a vida ir seguindo seu curso normal, então ela foi simplesmente vivendo!
Foi vivendo e fazendo o possível pra desencantar aos poucos, observando atentamente cada atitude repudiável, tentando ouvir menos o coração, olhando mais pros lados.
E ela foi vivendo, aprendendo a ser recíproca, pagando na mesma moeda... Até que num belo dia não foi ele o seu primeiro pensamento, não doeu quando ele não ligou.
Até que num belo dia, alguém bateu na sua porta pronto pra ficar, alguém querendo amar como ela queria.
E ela foi vivendo...
É uma pena, mas seu coração não é mais dele, agora é de outro!