Bolinhas de guardanapo!
Guardanapos... Lembro-me que a mesa deles ficou cheia de bolinhas de guardanapo.
Era um dia quente, numa tarde qualquer de dezembro, resolvi fugir daquele lugar que chamam de lar. O céu estava azul e andorinhas davam-no um toque especial.
Atravessei a rua e fui parar num parque do outro lado de casa, foi o máximo que minhas frágeis pernas conseguiram chegar. Sentei-me num banco em frente a um quiosque que como aquela tarde era qualquer... Comecei a observar o movimento, pessoas andando de um lado para o outro e foi aí que um jovem casal me prendeu a atenção. Quer dizer... poderiam ser amigos, primos ou até irmãos, mas minha experiência não me engana e pelo silêncio e troca de olhares constrangidos, eles eram mesmo um casal e eu poderia apostar... aquele era seu primeiro encontro.
A garota parecia concentrada em tudo, menos no menino, ela estava perdida em seu sorvete e em seus pensamentos. O garoto tentava de tudo um pouco para chamá-la à vida real... Pude ouvi-lo cantar e declamar poesias, ele até tentou falar sobre seus planos pro próximo ano, tentativas frustradas. Ela falava meia dúzia de palavras e de repente calava-se, fechando a cara.
Eu estava quase tomando as dores daquele pobre garoto e me arrastando até aquela mesa, chamaria a mocinha de mimada e mal-educada. Talvez Sarah ficasse do lado dela... E como num lampejo Sarah veio em minha mente. Lembrei-me dos tempos de escola, em que éramos da mesma classe, ela era a mais linda de todas, meia dúzia de amigos meus a tinham em seus sonhos, e eu também. Sarah tinha as melhores e mais altas notas e não olhava para nenhum de nós, mas como era bom e revigorante vê-la todos os dias de manhã
Competíamos por sua atenção, mas isso era algo completamente inútil. Até que perdi o medo e resolvi me declarar... Pois é, ficamos juntos por cinquenta e dois anos, vivemos uma vida muito boa ao lado um do outro... Sarah teve que partir e há três anos eu vivo sem ela. Penso nela todos os dias e não me admiro em ter me lembrado dela simplesmente por olhar para esse jovem casal, é que a menina parece estar sempre no mundo da lua assim como era Sarah... E o menino assim como eu, precisa a todo momento chamar sua atenção.
Ele enrolou alguns guardanapos, formando pequenas bolinhas, começou acertando o nariz, o cabelo e o olho da menina, ela correspondeu e pude ouvir o som de gargalhadas vindas dali. Fiquei observando e sorrindo também. Naquele momento Sarah parecia aplaudir, e eu tive saudades dela, saudades dos nossos tempos... De quando eu assobiava e só aquilo a tirava de seu transe.
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